Destaque da Semana: Ana Luísa Vieira Soares

Ana, sê bem-vinda à nossa rubrica Destaque da Semana, na qual promovemos entrevistas inéditas com autores nacionais, e cujo propósito primordial é fazer com que as suas palavras alcancem novos leitores.
Para começarmos, eis a pergunta que se impõe, como é que nasceu o gosto pela escrita?
O gosto pela escrita vem de há muitos anos, quando eu ainda pequenina, 7/8 anos, comecei a escrever para exteriorizar pensamentos e sentimentos. Lembro de na escola ter a oportunidade de escrever sobre um dos episódios mais dolorosos da minha vida, que foi a morte da minha prima com 12 anos e que me permitiu de algum modo libertar da dor que sentia na altura. Aprendi que quando escrevia sobre os meus sentimentos e pensamentos me sentia mais livre, ainda que a maioria dos textos escritos nunca fossem partilhados. Nunca fui de ter um diário, fiz várias tentativas, mas a disciplina de todos os dias ter que escrever não me seduzia, optava apenas por escrever quando sentia que estava a explodir. Quase como uma forma de expiação quer de coisas extraordinárias como paixões ou de acontecimentos que me incomodavam e que eu não me sentia à vontade de partilhar com mais ninguém. À medida que fui crescendo fui deixando de escrever, senti que não fazia sentido, que era coisa de menina, ainda que na altura quando partilhava os meus textos havia sempre quem me incentivasse a continuar. Sentia que havia coisas muito mais importantes a fazer e formas muito mais interessantes de investir o meu tempo. Até que uma altura descobri que a escrita era uma forma importante de passar uma mensagem mais rápida e de chegar a mais pessoas, uma forma de podermos regressar sempre que necessário a um conhecimento que podia fazer falta, e que por via oral havia coisas que nos escapavam, então uma forma de consolidar conhecimento era poder reler a informação passada, desse modo surgiu o meu primeiro livro, apenas em ebook, e partilhado em exclusivo com donos, diretores e gestores do mercado em que operava na altura. Este livro é um manual prático de gestão e liderança para espaços de saúde e bem-estar. O segundo livro foi um complemento específico para profissionais do setor, nele eu partilhei como pensam e se comportam os profissionais de saúde e bem-estar com os melhores resultados, aqueles que gerindo bem a sua agenda, são os que ganham mais dinheiro, escolhem os seus clientes, escolhem as marcas com que trabalham, ou criam os seus próprios negócios e ainda têm tempo para uma vida pessoal de prazer, contrariando a ideia que para ganhar muito dinheiro no mercado de saúde e bem-estar é preciso abdicar da vida privada e sujeitar-se a atender qualquer tipo de cliente. Este livro, Cria e Expande o Teu Negócio Como Terapeuta, está também apenas disponível em e-book. E desde essa altura que não mais parei de escrever. Escrevo para mim e agora escrevo também para os outros, sempre que sinto que posso causar impacto na vida de alguém ao partilhar a minha mensagem.
A Ana está ligada ao desenvolvimento pessoal e detém a sua empresa, Mulheres COMetas, que trabalha esta mesma vertente. Sabemos que o seu primeiro livro, do qual falaremos adiante, nasceu desta ligação. Pode falar-nos desse processo? De como a sua atividade profissional exerce influência sobre o seu trabalho literário?
Como já tinha falado anteriormente, não foi o meu primeiro livro, mas sim o meu primeiro livro editado. Desde cedo descobri a minha paixão por pessoas, percebendo que todas as pessoas são perfeitas, só que como vivem a sua vida condicionada a corresponder às expectativas que acreditam que os outros têm sobre elas, esquecem o mais importante, saber quem são e o que desejam para as suas vidas. Fomos formatados com uma memória coletiva que nos diz que não podemos ter tudo, que basta termos o suficiente, que para ganharmos dinheiro temos que trabalhar arduamente, que para ganharmos alguém tem que perder, que para merecermos termos que fazer, que o dinheiro não traz Felicidade, que somos superiores ou inferiores, que nem todos nascemos para sermos felizes e outras crenças do género que nos limitam. Estas crenças foram-nos passadas com o intuito de nos proteger, e muitas vezes por quem mais amamos. Que fazem e fizeram, sempre, o melhor que sabem com as ferramentas que têm, mas que nos limitam e nos aprisionam numa jaula ilusória de uma segurança que não existe e nunca irá existir. Com as Mulheres COMetas, encontrei uma forma de libertar outras mulheres, que como eu, desejavam ter tudo. Desejavam sentir-se plenamente realizadas em todas as áreas das suas vidas e contrariar a crença de que não podemos ter tudo. E toda a minha formação e aprendizagens vão nesse sentido, encontrar pessoas que conseguiram ter tudo, saber como pensam, como agem, como se movem, quais os seus hábitos diários e como se transformaram. Todos os autores que leio são pessoas capazes de entregar a ponte que nos levará a estar onde eles já chegaram. E o projeto Mulheres COMetas tem essa missão, entregar as pontes para minimizar os caminhos alternativos que levam a outros destinos diferentes da Total Realização. De momento, tudo o que escrevo é um complemento do trabalho a que me dedico diariamente, formulas simples e objetivas de aplicação prática diária e que levam à tomada de consciência que a minha realidade é o que eu sou, é fruto das sementes que planto em cada um dos meus dias de vida, não obra do acaso como nos transmitem desde pequenos. E se eu não gosto da minha realidade tenho que me transformar, pois eu terei sempre o que sou e nunca o que faço. Essa é a explicação para que 2 pessoas que fazem o mesmo, por vezes há uma que faz ainda mais, e os resultados são diferentes. A que é e acredita que é, terá sempre muito mais sucesso do que a que faz apenas. Por isso é tão importante sabermos quem somos e em quem temos que nos transformar para termos a realidade que desejamos.
Eu Digo Sim (In) felicidade é o seu primeiro livro. Como surgiu o ímpeto de escrever este livro e de o partilhar com o público?
Este livro foi pensado como uma ferramenta de divulgação do meu trabalho, eu estava no início de um novo projeto e resolvi escrever este livro como forma de atrair clientes para o meu trabalho como mentora multidimensional, e foi-me recomendado que o fizesse por uma das minhas mentoras, contratada para me ajudar a desenvolver o meu negócio. Inicialmente era para ser distribuído gratuitamente.
E foi-se revelando como forma de entregar uma solução prática para que as pessoas possam ser mais felizes, e que entendam que esta Felicidade é uma escolha. Escrevi-o sempre com o meu filho em mente e com os ensinamentos que gostaria de lhe transmitir, ensinamentos estes que gostaria de ter tido acesso pelos meus 25 anos, em que iniciava verdadeiramente a minha vida, até lá tudo era um esboço.
Do mesmo modo que eu escolho o que vou vestir eu posso escolher o meu estado interno, por muito que a situação pareça desesperante, a minha mente vai sempre colocar um cenário pior do que aquele que vai realmente acontecer. Dizem que 90% dos problemas fabricados pela nossa mente, nunca chegam verdadeiramente a ser materializados. Há coisas que eu não controlo, nem é suposto eu controlar. Mas a forma como eu encaro o meu dia é uma decisão minha, e não é por eu andar preocupada e ansiosa que vou mudar a minha realidade. Com isto não quer dizer que eu relaxe e deixe que os outros resolvam os meus problemas por mim, nada disso. É suposto ser eu e apenas eu a aprender as minhas lições. Nenhum de nós tem a mínima responsabilidade sobre a vida dos outros. Todas as escolhas trazem consequências, e quando escolhemos, temos que assumir a responsabilidade pelos nossos atos. Ainda assim, quando assumo a responsabilidade pelos meus atos a sorrir, impeço que a situação piore, levando comigo pessoas inocentes que em nada são responsáveis pela situação em que me encontro. Nada acontece na nossa vida que não traga com ela as ferramentas necessárias para que seja ultrapassada. E cada dor é uma oportunidade de evolução que levará a uma bênção de igual valor ou de valor ainda superior. Como a natureza, também nós temos ciclos. Nós somos natureza, ainda que por vezes nos esqueçamos disso. Há tempo de nascer, crescer, amadurecer, morrer e voltar a renascer e isto acontece de formas diferentes e em tempos diferentes para cada um de nós. Cada ciclo evolutivo terá obrigatoriamente que respeitar estas 4 fases. Não precisamos entender, nem sequer aceitar para que o experienciemos. Mas quando aprendemos a forma certa de nos posicionar e de como nos comportar em cada uma das fases, sofremos menos e por menos tempo. Ainda que, enquanto o desejo for a evolução, a dor virá. Para parar de doer, teremos que parar de evoluir e isso seria quebrar uma lei que está na nossa natureza, logo inviolável. A forma de deixarmos de ter dor é mesmo morrer, e mesmo assim, não há certezas disso. A solução passa por nos conhecermos cada vez melhor, respeitando as regras, para que possamos viver o máximo de tempo de prazer que nos seja permitido.
E o processo de escrita desta obra, como correu? Pode partilhar connosco um pouco sobre essa experiência?
O processo de escrita desta obra passou por várias fases, uma fase inicial em que tudo fluía a uma velocidade incrível e com vários momentos de paragem. E em cada momento de paragem eu questionava se valia a pena continuar, uma vez que o objetivo que me levou a escrever o livro era falar sobre o meu trabalho e como com a minha experiência de vida poderia ajudar outras pessoas. Então de cada vez que recomeçava sentia que faltava algo a dizer, faltava algum ensinamento que eu tinha lido algures num livro, alguma história minha que podia inspirar outras pessoas, algum caminho que eu tinha atravessado com a ajuda dos meus mentores, sentia sempre que algo faltava. Até que um dia percebi que o conhecimento de 10 anos nunca caberia em 100 páginas, que era o limite que me era permitido no programa que utilizei para escrever o livro. E foi aí que decidi apenas entregar-me ao propósito de partilhar com o mundo um pequeno guia que ajudasse com ferramentas simples a melhorar a vida das pessoas, quando o que eu na verdade queria era resolver a vida das pessoas, mostrar-lhes que com o acompanhamento certo podiam chegar ao seu verdadeiro propósito, à sua realização total. Mas isso iria fazê-lo em privado com as sessões de mentoria. Então resolvi dar livro por concluído e apresentá-lo à minha mentora, que se riu de mim quando viu que a minha ferramenta de divulgação tinha 100 páginas, eu tinha percebido tudo mal, era suposto esta breve apresentação ter perto de 5 páginas, no limite 10. Então tive que refazer tudo, e entregar um pequeno ebook de 10 páginas como ferramenta de divulgação a ser entregue gratuitamente. Ou seja, fiquei com um livro escrito em mãos e sem saber o que lhe fazer, até que permiti que a minha mãe lesse e ela disse “Ginha, toda a gente devia ler o teu livro”. E ao contrário da maior parte das mães, a minha é extremamente crítica, principalmente com o meu trabalho, o que faz com que eu saiba que se ela diz que está bom é porque está mesmo bom e não porque fui eu que o fiz. E foi assim que resolvi fazer uns pequenos ajustes, uma vez que o objetivo inicial já não seria o mesmo, e comecei a pesquisar algumas editoras, consultei um dos meus mentores que também já tinha escrito um livro e enviei o manuscrito para três editoras. Dias mais tarde recebo a vossa resposta, que me deixou muito feliz e resolvi avançar, pois acredito que nada acontece por acaso e a vida estava a dar-me mais uma oportunidade de eu ajudar pessoas.
Enquanto editores temos naturalmente um apreço enorme pelas obras que publicamos, mas é inegável que este seu livro é especial. É um livro dedicado ao outro, ao desenvolvimento do outro. Um livro com um poder incrível. De onde vem esta necessidade e esta paixão por ajudar o próximo a ser mais e melhor?
Esta paixão por ajudar o próximo, dizem os cabalistas, que vem do meu Tikkun, de uma das correções que venho fazer a esta vida. Pois na última, estive demasiado focada em mim própria e nesta, vim resolver, vim aprender a expandir-me com o sucesso dos outros. Ainda que numa experiência anterior, no meu negócio anterior e nesta mesma vida, o querer ajudar os outros quase me levou à falência e foi aí que tive que entrar num processo de pedir ajuda e perceber como podia continuar a ajudar os outros ajudando me também a mim e colocando me em primeiro lugar, então com a ajuda dos meus mentores utilizei o meu “inferno pessoal” para mostrar a outras pessoas, que é possível sair de qualquer situação em que eu me encontro no momento e retirar dela a força que eu preciso para me tornar uma pessoa muito melhor e muito mais feliz. Eu posso recomeçar as vezes que eu precisar, as vezes que eu quiser, pois ainda que me tirem tudo nunca nada nem ninguém me pode tirar o meu valor a não ser eu mesma. E eu estava a entrar num processo em que queria voltar a estar sozinha, sabia que era uma profissional de topo fizesse eu o que fizesse, queria um salário no fim do mês fixo e sabia que qualquer ex-cliente meu de consultoria em gestão de negócio a quem eu tivesse acompanhado, me iria oferecer trabalho ao saber que eu estava disponível no mercado. Mas na mesma medida em que esta ideia me dava conforto, também me causava dor. E tomei consciência disto numa aula da cartas Oh, formação que tirei em Vigo e em que o professor identifica essa minha ferida e me diz que estou a condicionar-me por cobardia. Cobarde, eu? Se há coisa que nunca fiz, foi ser cobarde. Ou seja, ele espetou a faca na ferida e depois de um dia inteiro em que não tive força para me levantar da cama, assumi que sim, eu estava a ser cobarde. Estava a vitimizar-me, estava a limitar o meu potencial por uma má experiência. Estava a deixar de viver o meu sonho de ajudar os outros, de cumprir a minha missão, de evoluir, porque a minha mente me queria proteger da desilusão, do sofrimento de voltar a tentar e falhar. E aí decidi queimar “os barcos”, não ia mais voltar atrás, não ia voltar a pensar em caminhos seguros. Escolhi que ia assumir-me como mentora, e se o meu negócio expandisse ao ponto em que teria que contratar outras pessoas para que ele continuasse a crescer, assim seria. Escolhi trabalhar o que podia controlar e entregar o que não me compete, larguei a necessidade de controlar todas as variáveis e confiar. E fui então fazer comigo o que faço agora com os outros, curei as minhas feridas, trabalhei o meu amor próprio, o amor incondicional por mim, o respeito e a aceitação pelas minhas escolhas assumindo apenas a minha percentagem de responsabilidade e perdoei-me. Ao perdoar-me libertei-me para plenamente me dar a outras pessoas, agora eu como mentora, e a cada feedback de uma cliente eu ganhava mais força e o caminho ia-se abrindo à minha frente e ia-se construindo sem que eu percebesse bem como, mas confiando no que me dizia o coração, confiando na minha intenção de ajudar o próximo a sair do seu “inferno pessoal”, dessa sensação que me era tão familiar e eu agora sabia como sair dela, eu tinha a ponte que facilitava o processo. Eu tenho essa ponte. A escolha de vos enviar o livro foi mais um escutar do coração, foi quase como a validação divina que eu precisava ter para saber que estava a fazer o que é certo. E isso acontece com cada pessoa que vem ter comigo, eu aprendi a entender a mensagem, se foi enviada para mim, eu sei que sou a pessoa certa para a ajudar. Eu sei que a minha história, o meu acompanhamento vai dar-lhe força e energia para que também ela trabalhe para ser feliz, porque ser feliz exige trabalho. Também acredito que este livro cairá no momento certo nas mãos certas, pois há uma energia especial neste livro, há uma intenção, e a intenção é somente que a mensagem chegue apenas ao aluno que está preparado para a receber. Por esse motivo acredito que ele atrairá para si os alunos certos nos momentos certos.
Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?
Neste momento quero dedicar-me inteiramente à mentoria privada, essa é a minha paixão, a felicidade das minhas clientes é a minha missão, o meu foco. E se eu sentir que estou a servi-las melhor ao lançar um outro livro, assim o farei. Se eu sentir que há um assunto que merece ser partilhado para que a humanidade possa ser mais feliz irei com certeza escrever um outro livro. Sinto que ao fazê-lo usarei a minha experiência como mentora, com os assuntos que mais ajudo a resolver, no mesmo registo de entrega de soluções práticas e simples, mas para os vários temas que mais surgem como motivo para iniciar um caminho de mentoria comigo. De momento o que mais tenho ajudado são casos de ansiedade e falta de amor próprio, o que se traduz em constante desvalorização e culpa. Quem sabe, o próximo livro trabalhará estes temas, é por aqui que a vida me está a encaminhar. Eu estudo em função dos casos que tenho e tenho estado a especializar-me nestas situações.
Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?
A mensagem que quero partilhar, é um reforço do que já disse nesta entrevista, aconteça o que acontecer, nada nem ninguém me pode tirar o meu valor sem que eu permita. E todos nós temos valor, MUITO. Eu decido todos os dias como vai ser o resto da minha vida, mas para decidir tenho que trabalhar todo o meu potencial, tenho que amar-me acima de tudo, tenho que me respeitar, tenho que me perdoar e tenho que me aceitar exatamente como sou. Tenho que assumir a minha perfeita imperfeição, sem culpa e sem qualquer responsabilidade sobre como os outros se vão sentir quando eu colocar a minha voz no mundo. Tenho que descobrir quem sou e mostrá-lo com orgulho. Tenho que ocupar o meu espaço sem medo ou culpa que o meu brilho ofusque os outros.
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