À Conversa com... Sandra Correia
Atualizado: 25 de mai.

Sandra, seja bem-vinda à nossa rubrica À Conversa Com…
Nesta rubrica promovemos entrevistas inéditas com autores nacionais, e cujo propósito primordial é fazer com que as suas palavras alcancem novos leitores.
1. Para começarmos, eis a pergunta que se impõem, como é que nasceu o gosto pela escrita?
Eu respondo a essa pergunta no meu livro. Foi na minha adolescência, eu era uma rapariga muito reservada e não conseguia confidenciar-me a nenhuma amiga. Comecei a escrever num diário, fazia os meus desabafos, descrevia já os meus sonhos e as minhas revoltas. Mais tarde, já adulta, em momentos mais difíceis da vida, criei vários blogues, onde registava o meu sentir de cada dia, em poesia ou em prosa. Também escrevia em blocos. Cheguei a começar vários livros. Finalmente, o Facebook trouxe-me a liberdade da escrita.
2. Como surgiu o ímpeto de escrever esta obra e de a partilhar com o público?
Há dois anos, um amigo, o Sr. Fonseca, que cito no livro e segue assiduamente os meus textos, disse-me: «Para quando um livro?». Essa sementinha ficou a borbulhar. No início considerei não avançar. Pensei: mais um livro, mais uma escritora? E foram as reações aos meus textos da minha página que foram o empurrão para criar uma história que não é uma história e de partilhar o meu sentir, as minhas vivencias, o meu olhar sobre a vida e sobre o mundo com o público.
3. Como correu o processo de escrita desta obra. Partilhe connosco um pouco sobre essa experiência?
Foi muito lento. Quis fazer algo diferente, não queria que fosse mais uma compilação de textos. Recolhi todos os que tinha escrito até à data e depois comecei a escrever outros de maneira a dar uma ideia de passagem do tempo, do meu nascimento até hoje. A grande maioria dos textos foram escritos num período em que me encontrava debilitada ao nível da saúde, o meu estado emocional é um forte impulso para a escrita, foi nas teclas que encontrei algum equilíbrio – digo-o sem qualquer receio, cada vez mais devemos saber gerir as nossas emoções e falar delas é um caminho para aquilo que todos desejamos e para aquilo que nascemos, sermos felizes.
4. Voo, uma obra em busca de cor, em busca de luz, em busca do eu. De onde vem a necessidade de escrever um livro onde não se conta uma história e onde não podemos contar com um enredo com final feliz?
O título Voo, de voar espelha o meu percurso em busca do meu eu, de mim. É também um jogo de palavras com «vou» de ir, de seguir caminho sem olhar para trás, como fiz ao escrever este livro, apesar dos receios, da crítica literária. Quanto à necessidade de “escrever um livro onde não se conta uma história e onde não podemos contar com um enredo com final feliz”, deve-se às minhas emoções, às minhas vivências. Em cinquenta anos, já percorri longos caminhos, já aprendi muito, já fui feliz. Sou uma mulher como tantas outras, que vive em função do filho e da família, mas principalmente do meu Guilherme. O meu livro não é um romance, nem um livro de poesia, mas também não é um retalho de textos. É o meu espelho. Cada palavra é o olhar sobre o mundo, as emoções vividas, as revoltas e as frustrações da minha vida. Aliás Florbela Espanca, uma das minhas poetisas preferidas di-lo muito bem na entrada que escolhi: A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente. Este livro retrata a minha moldura.
No final, encontramos um final feliz? Deixo a resposta para os meus leitores.
5. Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?
Gostaria de avançar para um livro completamente diferente, um novo desafio. Vamos ver se conseguirei por em prática este novo desafio.
6. Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?
Que sejam felizes. Que cada dia seja uma página iluminada para novos desafios, novas emoções. Gostaria que, embora multiplicam-se escritores, que os houvesse ainda mais, que cada um desse voz às palavras através da escrita, porque todos somos diferentes, todos somos iguais, mas todos vivemos num mesmo mundo, um mundo caótico onde urge mais ação. O 25 de Abril fez-se pelas palavras, pela voz, pelos poetas e cantores.
Precisamos de um novo 25 de abril, que seja pelos livros e pela música.
