À conversa com... Rui Ferreira

Rui, seja bem-vindo à nossa rubrica À Conversa
Com…
Nesta rubrica promovemos entrevistas inéditas
com autores nacionais, e cujo propósito primordial é fazer com que as suas palavras
alcancem novos leitores.
1. Para começarmos, eis a pergunta que se impõem, como é que nasceu o gosto pela
escrita?
O gosto pela escrita começou logo no ensino primário, onde demonstrava
habilidade para inventar e contar histórias, que se materializava nas redações que
quase diariamente tínhamos de fazer.
É também um refúgio e o meu castelo. É sobretudo uma forma de expressar e dar
voz ao que penso, mas não verbalizo.
2. Como surgiu o ímpeto de escrever esta obra e de a partilhar com o público?
O tema da segunda guerra mundial e tudo o que a envolve, sempre me fascinou.
Desde miúdo que leio tudo o que posso acerca desse período negro da história da
humanidade.
Apesar do nosso país ter optado pela neutralidade, sempre me questionei se não
haveriam compatriotas nossos envolvidos no conflito. Acabei por perceber que os
portugueses, muitos, combateram a Alemanha nazi, através de movimentos de
resistência por toda a europa e em particular no movimento de resistência francês.
Curiosamente, há um enorme vazio histórico, relativamente à participação desses
homens e mulheres, o que dificulta imenso, o desenvolvimento desta temática.
Apesar disso, mas sobretudo por isso, entendia que era necessário trazer à luz do
dia, ainda que recorrendo a uma história de ficção, o esforço que esses portugueses
fizeram em prol de um bem maior. É da mais elementar justiça, falar e enaltecer o
seu papel no desenrolar do conflito que dilacerou a Europa e o mundo.
3. Como correu o processo de escrita desta obra. Partilhe connosco um pouco sobre
essa experiência?
Como disse anteriormente, há muito pouca informação acerca da participação dos
portugueses nos movimentos de resistência ao nazismo e mais concretamente, no
movimento de resistência francês. Obrigou a muitas horas de pesquisa e a muita
leitura. Felizmente, a dada altura do processo, foi lançado o livro do jornalista José
Manuel Barata-Feyo, “A sombra dos heróis”, que versa precisamente sobre esta
matéria. Esse livro foi a base para desenvolver uma história, que sendo pura ficção,
assenta em acontecimentos que podiam, efetivamente, ter sido perpetrados por
portugueses, dada a verosimilhança com os acontecimentos reais, que ousaram
levar a cabo.
4. Resistência com Sotaque, uma obra entre a luta e a intriga, entre o amor e a traição,
desenrola-se uma história arrebatadora de paixão, resistência, combate e jogos de
espionagem, enaltecendo o papel esquecido e pouco reconhecido, que muitos
portugueses desempenharam durante a Segunda Guerra Mundial e, mais
concretamente, na resistência Francesa.
De onde surgiu a vontade de falar sobre este tema num cenário de guerra?
Desde logo a necessidade que sentia de que era necessário dar a conhecer os feitos
dos nossos compatriotas. Retirá-los da sombra, enaltecê-los e não deixar que sejam,
de novo, cobertos pelo manto do esquecimento histórico.
O amor não escolhe cenários para acontecer, daí que era perfeitamente verosímil
que uma história de amor tivesse acontecido entre duas personagens que interagem
de uma forma muito intensa ao longo de toda a narrativa. Para além disso, a
história tinha de ter algo que falasse ao coração dos leitores. Não bastava enumerar
os feitos atingidos, era necessário encontrar uma história que funcionasse como um
fio condutor agregador, que tendo como objetivo primordial dar a conhecer esses
feitos, pudesse também envolver o leitor e projetar a história para além do livro.
Espero ter conseguido isso. O sucesso que este livro possa ter, será também o de
divulgar o papel dos portugueses na segunda guerra mundial e de não os deixar cair
no esquecimento, uma vez que a história se encarregou de os deixar na sombra.
5. Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas
obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?
O futuro será o de continuar este desafiante percurso literário, e este é o registo
com que me identifico. No entanto, novas obras irão aparecer, uma está em fase
final e versa sobre a homossexualidade no período da segunda guerra mundial, mais
concretamente no exército alemão, sabendo que a homossexualidade era
abominada pelo regime nazi, que perpetrou as coisas mais ignóbeis e indiscritíveis
sobre a comunidade homossexual.
Há uma outra obra, finalizada, que versa sobre a temática da síndrome de Down, e
esta sim, foi um verdadeiro desafio, uma vez que surge totalmente fora do meu
registo habitual.
6. Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?
Leiam. Leiam muito, de preferência autores portugueses. Tenho a certeza de que
terão agradáveis surpresas. Há muito talento que se perde por falta de
oportunidades do mercado literário, e é uma pena.
Sem deixarem de lado os vossos autores preferidos, estrangeiros ou nacionais,
deem uma oportunidade aos autores portugueses., nomeadamente aos autores
emergentes.
