À conversa com... Rogério
Rogério, seja bem-vindo à nossa rubrica À conversa com...
Nesta rubrica promovemos entrevistas inéditas com autores nacionais, e cujo propósito
primordial é fazer com que as suas palavras alcancem novos leitores.
1. Para começarmos, eis a pergunta que se impõe, como é que nasceu o gosto pela
escrita?
R: Olá, o meu gosto ela escrita esteve sempre comigo desde muito cedo. Sempre
tive grande imaginação e recordo-me que com frequência era chamado na quarta-
classe a ler a minha composição. Aliás no 9º ano no Rainha Santa Isabel, havia na
altura um jornal escolar, semanal em que eu escrevia “As aventuras de Idiota
Jones”, nome que passou a ser a alcunha na escola.
Já na faculdade guardava pedaços de papel ou senhas de autocarro com
pensamentos escritos no verso. Por vezes eram pequenos “teasers” que depois
desenvolveria.
Resumindo, a escrita foi sempre a minha amiga inseparável, companheira
dos meus pensamentos, receios e segredos…
2. A Deus. Como surgiu o ímpeto de escrever este seu livro e de o partilhar com o
público?
R : Desde jovem que ouvia Doors que escrevia poesia tímida mas para
mim. Mais a sério creio que desde 2012 que escrevo poesia e quando digo
escrever poesia é escrever em verso o que em prosa não deve ser dito. A
poesia tem de facto um sabor diferente, um traço diferente, um cunho
diferente. Entendo no fundo ser uma forma subtil de mostrar os nossos
medos, anseios e desejos. São estrofes mas também são escadas, são
versos mas também são fragmentos de mim e de ti. É algo que na prosa
não é tão cru.
E desde 2012 que escrevo avulso, por vezes em coletâneas de vários
autores, mas nunca tinha sentido necessidade de um livro em nome próprio.
Até ser pai. Aí sentes que tens a responsabilidade de tentar reunir o melhor
de ti, para eles saberem quem és e o que foste. Senti de facto algum receio,
de me revelar ao publico em geral, mas paralelamente a partilha, ensinou-
nos a pandemia, é o mais humano que temos e no fim de contas os meus
medos podem ser os teus, as minhas paixões as tuas…
Poderem se rever no que escrevo é o meu clímax literário. A sensação de
dever cumprido!
3. E o processo de escrita desta obra, como correu? Pode partilhar connosco um
pouco sobre essa experiência?
R: Muito duro. Eu tinha tido uma péssima experiência na conceção
da minha primeira obra, quer a nível de revisão, quer a nível de tamanho
de letra e tinha receio de voltar a suceder o mesmo. Tinha dúvidas e
incertezas constantes e aqui tenho de o dizer, foi a editora a intervir, a
me acalmar, a sugerir, a trabalhar no que eu pretendia, no que eles
achavam. Uma dinâmica que foi crescendo e que como todos os
projetos, com avanços e recuos, mas sempre senti a editora -Oficina da
Escrita disponível e recetiva a mudanças…E foram tantas.
Por outro lado, tratava-se de escolher os poemas certos
para o que pretendia e é sempre complicado deixares alguns de fora,
porque de alguma maneira não seriam consentâneos com a mensagem
que queria passar no” A Deus
4. A Deus diz-nos que a vida é uma eterna poesia.
«A minha eterna palavra
Que um dia será lembrada
Proferida, lida...
Amaldiçoada!»
De onde vem esta necessidade de abordar o valor e o poder das palavras e a paixão
pela poesia?
R: Na adolescência o tempo passa depressa, tudo gira muito rápido e nessa fase
evolutiva, rebelde e de agitação interior sentes que tens muito a dizer ao mundo.
Por vezes começas em prosa num diário, num caderno avulso, num blog por
exemplo. Mas nessa idade, a prosa começa a ser curta para ti. Não sabes coimo te
exprimir, como marcar o teu sentir.
Podes colocar em letra de canção ou em poesia, em frases curtas, marcantes, que
simplifiquem os teus gritos de medos , sonhos ou desejos e a poesia é isso.
Gosto de prosa, que a comparo a um jantar gourmet. A prosa deve ser requintada,
longa, perfumada. A prosa é a estrada regional e a Poesia a autoestrada. A prosa é
paciência a poesia é velocidade e dor…Por vezes amor.
Na poesia exaltamos os sentidos, os medos e segredos, mesmo sem a escrevermos.
Por vezes acordamos a rimar, a declamar algo que morrerá ali. Foi acaso do
momento ou ocaso do tormento.
No fundo a prosa regista, mas a poesia marca o teu momento que um dia será lida
ou lembrada, se for escrita ou dita…. Ao ouvido.
5. Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas
obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?
R: Não sendo esta obra “A Deus” o meu primeiro livro, é, no entanto, a minha
primeira incursão em nome próprio no lançamento de um livro de poesia. Tenho
planos claro, quer dentro da poesia, quer na prosa, onde me encontro aliás “às
voltas com a ideia de um romance. Por outro lado, estudo também a possibilidade
de concursos literários.
A verdade é que estou maravilhado com a receção que o “A Deus “está a ter
por parte do publico em geral e não querendo perder a minha voz ou identidade de
escrita, gostaria de facto de finalizar este romance.
No fundo a chama da escrita reacendeu e a vossa editora é culpada aqui e não
quero voltar a perder o momento. Sou feliz quando escrevo.
6. Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?
R: A vida é de facto uma eterna poesia, embora por vezes a tenhamos de a viver e
escrever em prosa.
A pandemia ensinou-nos que o presente é o agora, sempre o foi, mas este “ser
agora” significa já! Neste preciso momento. Se temos uma ideia, um projeto, uma
vontade…Força! Temos de a agarrar.
Sinto que perdi demasiado tempo entre o lançamento do meu primeiro livro e do “
A Deus” porque tinha medo. Receio de que talvez não corresse bem. Que talvez
não houvesse quem o editasse e bendita a hora em que vos enviei os originais.
Hoje digo…Se sonhas, se desejas, se queres…Vai!