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À conversa com... Olívia Maria

Atualizado: 25 de mai.



Olívia, seja bem-vinda à nossa rubrica À conversa com...

Nesta rubrica promovemos entrevistas inéditas com autores nacionais, e cujo propósito

primordial é fazer com que as suas palavras alcancem novos leitores.


1. Para começarmos, eis uma pergunta muito importante, como é que nasceu o gosto

pela escrita?


O gosto pela escrita surge na adolescência e no secundário com diários e poesia. Mais tarde, já na idade

adulta comecei a ler romances, quanto mais lia, mais gostava de entrar em mundos diferentes do meu e,

no entanto, tantas vezes tão semelhantes. Foi também nessa época que descobri o mundo dos blogues

onde lia e comentava textos escritos por diversas pessoas. Um dia decidi experimentar e foi uma

verdadeira revolução na minha vida. Escrever começou a ser parte de mim, partilhei vivências e histórias

pessoais durante vários anos. A escrita criativa surgiu muito mais tarde.


2. Renascer dos Escombros é a sua primeira obra. Como surgiu o ímpeto de escrever este

livro e a vontade de o partilhar com o público?


Há muito tempo li um livro da Nora Roberts onde a personagem principal tem o sonho de escrever mais do que meros estudos académicos, um dia abre um ficheiro no seu computador e começa a escrever em

segredo. Sente-se feliz e realizada. Esta cena nunca me saiu da cabeça. A pergunta «E se?» colocou-se por várias vezes no meu caminho, no entanto não surgiu oportunidade e o medo de não ser bem sucedida

ganhava sempre a batalha sob a ideias das possibilidades.

Foi na primeira quarentena devido à COVID19 que a vontade de escrever superou o medo. Precisava de

um escape, uma terapia para ultrapassar todas as dificuldades que aquela época causou na minha vida.

Assim, antes de adormecer imaginava uma cena e no outro dia de madrugada escrevia. Quanto mais

escrevia, mais queria escrever. E, tal como na personagem do livro da Nora Roberts escrevi em segredo.

Cerca de um ano depois imprimi o texto ainda incompleto e, ao ler percebi que queria muito saber como

terminava aquela história. Fiz pesquisas, vi inúmeros vídeos sobre a vida em Timor Lorosae, sobre os

massacres, a reconstrução. Modifiquei capítulos inteiros e dei um novo sentido às personagens. Consultei

pessoas relacionadas com pormenores técnicos e por fim terminei a minha história.

Foi já mais tarde, depois de fazer um curso de escrita criativa que percebi os meandros da publicação de

novos autores em Portugal. Pedi a várias pessoas que lessem o que escrevi e deparando-me com várias

críticas positivas avancei com o envio do manuscrito às editoras.


3. Pode partilhar connosco um pouco sobre a experiência de escrever esta obra?


Escrever é sempre muito pessoal e requer alguma abstração da realidade quotidiana, quando se trabalha a

tempo inteiro, se é esposa e mãe o tempo livre não abunda por aí além. Foi preciso abdicar de algumas

coisas para me dedicar à escrita, para pesquisar e estudar locais onde eu nunca fui. Escrever para mim é

uma coisa, escrever para um público é completamente diferente, requer rigor e muita dedicação. Neste

meu primeiro livro acabei por escrever mais livremente sem uma estrutura planeada ou guião o que levou

a muitas incongruências de datas e «cenas».

Tentei transportar os leitores para uma época que me marcou na adolescência, o referendo em Timor, o

massacre o cemitério em Santa cruz, a onda de solidariedade do povo português, a música dos Trovante...

queria homenagear os nossos militares, os milhares de voluntários que, mesmo com medo, avançam para

auxiliar populações muitas vezes esquecidas pelas grandes potências. Pessoas que dedicam a sua vida aos

outros em trabalhos sociais e de solidariedade quer em países distantes quer nos nossos bairros, pessoas

que trabalham pela justiça e pela paz.


4. Renascer dos Escombros é uma história de luta, descoberta, de fins e recomeços de

crescimento e de perdão onde as certezas são inconstantes ... e as surpresas uma

dádiva.

De onde surge a vontade de escrever sobre reconstrução, auxílio e superação?


Penso que todos vivemos em busca de algo que nos preencha, de algo maior. Esta busca tantas vezes

desenfreada condiciona a nossa vida e mais tarde ou mais cedo damo-nos conta de que nos perdemos

algures nas nossas encruzilhadas.

A escolha entre continuar em frente apoquentados por sentimentos de culpa, raiva, tristeza ou encarar as

nossas perdas como lições de vida dando-nos a oportunidade de reformular os nossos objetivos e aprender

com os erros tem de ser encarada como uma escolha íntima de cada um porque não podemos voltar atrás.

A analogia da reconstrução de uma casa ou de uma cidade destruída aplicada à vida de cada um de nós

pareceu-me uma boa aposta: depois de firmados os alicerces podemos sempre reconstruir e fazer nascer

algo novo dessa mesma ruína. Enquanto há vida, há esperança, já diz o povo há muito tempo!


5. Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas

obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?


Confesso que uma vez terminado o meu primeiro livro foi necessário um período de reflexão e de «luto»,

dizer adeus às minhas personagens, serenar emoções e aceitar que tinha chegado o fim.

Após esse período voltei a sentir a ânsia de escrever, desta vez num registo um pouco diferente retratando

uma nova época. Está, pois, a nascer um novo romance cuja história me está a entusiasmar bastante!


6. Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?


Caros leitores, a minha principal mensagem é que há sempre esperança. Podemos sempre rescrever a

nossa história, e não falo apenas de grandes mudanças de rumo, falo de pequenos ajustes, pequenas

alterações que podem fazer grande diferença na forma como percecionamos o mundo e nas nossas

relações interpessoais. Mais do que um escape da realidade procuremos nos livros a inspiração e

motivação que tanta falta nos fazem! E é isso que espero que a leitura do livro Renascer dos escombros

vos proporcione.


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