À Conversa com... Francisco José Rito

Francisco, seja bem-vindo à nossa rubrica À Conversa Com…
Nesta rubrica promovemos entrevistas inéditas com autores nacionais, e cujo propósito
primordial é fazer com que as suas palavras alcancem novos leitores.
1. Para começarmos, eis a pergunta mais importante, como é que nasceu o gosto pela
escrita?
Olá. Permita-me que comece por lhe agradecer esta oportunidade. Tenho acompanhado o crescimento do vosso projeto e alegra-me ver o carinho e o empenho que lhe
dedicam. A Oficina da Escrita não é a primeira editora com que me relaciono e posso assegurar-
lhe que nem todas se preocupam com a promoção e divulgação das obras e dos autores como aqui
tenho visto. Sabemos bem que o mercado editorial é uma selva, que não é fácil singrar, que é
preciso partir muita pedra e que os mais reconhecidos em sempre são os que o merecem, mas
perceber que a editora se esforça por nos fazer chegar um pouco mais além, que não nos trata
apenas como um número, é muito reconfortante e motivador.
Quanto à sua pergunta, a escrita faz parte de mim desde tenra idade. Lembro-me dos primeiros
anos de escola, ainda no ensino básico, de escrever nas entrelinhas, ao desafio com os autores dos
manuais escolares. Muitas vezes fui repreendido e até castigado por causa disso. Depois, na
adolescência, fui apurando o gosto pela literatura, mais propriamente pela poesia e pelo conto.
2. Como surgiu o ímpeto de escrever De Degrau em Degrau e de o partilhar com o
público?
Esta antologia nasce da necessidade de marcar uma viragem no meu percurso. Assinala os
primeiros 10 anos, em que publiquei 14 títulos, a maioria em edições de autor, praticamente todas
esgotadas.
Impunha-se agora uma reedição, a pensar nos leitores que me vão conhecendo e que não tinham,
até aqui, acesso à obra completa. Inicialmente este iria ser apenas mais um livro, composto por
setenta inéditos, mas depois decidi escolher poemas das edições esgotadas, para os tornar novamente
acessíveis. Parei nos trezentos e cinquenta e nove. Mais haveria para juntar, mas quando percebi
que me aproximava das quatrocentas páginas, decidi que tinha de parar.
3. Como correu o processo de escrita desta obra. Partilhe connosco um pouco sobre
essa experiência?
Como não poderia deixar de ser, este livro cheira à minha terra e à minha gente, dando
voz a tantos que a não tiveram. Filho e neto de pescadores e varinas, não me canso de
honrar esta raça de gente lutadora, que de tão pouco fizeram tanto.
Cheira a partidas e chegadas. A saudade, ou não tivesse eu sentido sempre, à flor da pele,
o vazio da ausência. Aos dezanove anos fiz a mala e parti, e nunca mais deixei de viver
longe dos que me são importantes, com o sangue dividido por continentes (primeiro parti
e deixei aqui pais e irmãs, depois regressei e deixei por lá filhas e neta). Cheira a amor,
ao vivido e ao sonhado, porque nem só de realidades vive o homem.
4. De Degrau em Degrau reúne dez anos de poesia na sua vida.
A obra fala-nos sobre os momentos bons e os maus que vivenciamos nas nossas
vidas, são degraus que nos aproximam ou afastam dos nossos sonhos, do rumo, do
percurso que traçámos e que vamos percorrendo, nesta escada a que chamamos
vida. De onde surgiu esta vontade de escrever uma obra em que os leitores se vejam
refletidos e encontrem a própria essência?
Penso que toda a minha obra tem essa característica de despertar emoções e
consciências. E tento sempre deixar ao leitor algumas pontas soltas, espaço para
uma interpretação mais pessoal. Que quem lê os meus poemas se reveja nos sentidos
que os inspiraram.
5. Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas
obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?
Neste momento há mais um livro de livro de poesia pronto a publicar, o que deve acontecer ainda
este ano. Foi escrito já depois de compilar a antologia De Degrau em Degrau.
Entretanto devo dedicar-me a um novo romance, desenvolvendo uma ideia que anda aqui a
fervilhar-me nos dedos, já há algum tempo.
6. Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?
Primeiro, pedir-lhes que, se gostam de ler, por favor leiam autores portugueses. Seja qual for o
gênero, temos bons autores que merecem ser lidos.
Incutam hábitos de leitura aos vossos filhos ou netos. Quem lê sonha mais, viaja mais e chega
sempre mais além. A leitura abre horizontes e enriquece a personalidade.
Aos que gostam de escrever, que não tenham receio de mostrar o que escrevem. E se quiserem e
puderem, publiquem. Nem todos alcançaremos a consagração, porque nem a capacidade nem a
sorte bafejam a todos, mas a sensação do sonho realizado enche-nos a alma.
Deixo-vos o meu abraço, e obrigado.
Francisco José Rito
