À conversa com... Carla de Paula

Carla, seja bem-vinda à nossa rubrica À Conversa Com…
Nesta rubrica promovemos entrevistas inéditas com autores nacionais, e cujo propósito
primordial é fazer com que as suas palavras alcancem novos leitores.
1. Para começarmos, eis a pergunta que se impõem, como é que nasceu o gosto pela
escrita?
Em minha casa lia-se muito, todo o género de literatura, desde revistas sobre
televisão até romances, passando por livros infantis e almanaques. Os meus pais e
avô paterno também gostavam muito de escrever. Essa imersão nas letras
contribuiu, em grande parte, para o meu gosto pela escrita. Em criança era muito
traquinas e brincalhona, mas na adolescência tornei-me uma jovem introvertida,
tímida e não tinha muito jeito para falar (característica que mantenho até hoje). A
escrita assumiu, assim, na minha vida, um meio de expressão, uma forma de terapia
pessoal, um recurso de escape. Para além disso, sou de uma geração que viveu a
adolescência sem telemóvel nem internet e era através de cartas e de postais que
mantinha o contacto com a família e os amigos que estavam longe.
2. Como surgiu o ímpeto de escrever esta obra e de a partilhar com o público?
Comecei por fazer algumas formações e workshops de escrita criativa para adquirir
ferramentas que pudesse desenvolver com os alunos com quem trabalho. Um
desses workshops era direcionado para a escrita integral de um conto cujo tema
fosse a amizade e, assim, surgiu esta obra.
A vontade em partilhá-la com o público foi surgindo à medida que a história
crescia. Quando terminei o conto percebi que não me podia apropriar sozinha do
que tinha escrito e que esta história deveria pertencer a cada um de nós.
3. Como correu o processo de escrita desta obra. Partilhe connosco um pouco sobre
essa experiência?
Este conto teve um parto difícil, por assim dizer, eu tinha uma ideia formada, um plano a
seguir, até que vi que não era por aí que deveria ir. Escrevi dois parágrafos e estanquei.
Decidi deixá-la repousar durante algumas semanas. Quando retomei a obra foi com o
intuito de a descartar definitivamente, mas o olhar suplicante do protagonista já tinha
mexido comigo. Eu não podia desistir dele como todos os que o rodeavam já tinham feito,
não o podia calar. Tinha de o deixar falar dando-lhe voz pelas minhas mãos.
4. Que Não se Calem as Mãos, é uma viagem poderosa sobre uma realidade que
tentamos ignorar. Uma obra para fazer o leitor refletir e consciencializar.
De onde nasceu o intuito de falar sobre a necessidade dos seres humanos se
comunicarem e de se fazerem ouvir desde o primeiro sopro de vida?
Talvez da minha experiência profissional. Lido com crianças e jovens que cada vez mais,
sem qualquer constrangimento a nível comunicacional, possuem uma necessidade
tremenda em se fazerem ouvir. Estamos na era do digital, em que as pessoas se relacionam
muito pouco umas com as outras sem um telemóvel na mão e isso sucede com maior
frequência nas camadas mais jovens que chegam a sentir ansiedade social. O
desenvolvimento do ser humano não começou apenas com a descoberta do fogo e com o
facto de conseguir caminhar sobre duas pernas, também surgiu com o modo como
desenvolveu a comunicação e a interação social. Nessa era a comunicação não servia só
como promotora de relacionamento interpessoal como também servia como uma
ferramenta de proteção contra os perigos. Para além disso, contribuiu para o
desenvolvimento do pensamento. As consequências de ficarmos privados dessa capacidade
resultou nesta viagem que partilho convosco.
5. Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas
obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?
Neste momento quero aproveitar a experiência de partilhar com o público esta
obra. Entretanto, vou continuar a escrever e a melhorar o que escrevo e se alguma
das minhas histórias quiser voar, abro-lhe a janela e deixo-a ir até quem a quiser
agarrar.
6. Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?
Sejam amáveis e empáticos uns para os outros. Coloquem de lado ideias pré-concebidas e
tentem compreender o outro sem esperar que seja ele a adaptar-se a vós.
