À conversa com... António Palhinha

António, seja bem-vindo à nossa rubrica À conversa com…
Nesta rubrica promovemos entrevistas inéditas com autores nacionais, e cujo propósito
primordial é fazer com que as suas palavras alcancem novos leitores.
Para começarmos, eis a pergunta que se impõem, como é que nasceu o gosto pela
escrita?
Quando se nasce numa família pobre, uma das primeiras coisas que os pais
nos ensinam é que temos de aprender a ler e a escrever para ser alguém. É uma
regra de sobrevivência. Escrever, é portanto, nos tempos difíceis um acto de
sobrevivência, de resiliência que nos transforma em muitos aspetos. O meu gosto
pela escrita nasce impulsionado pela minha mãe. Há momentos que tenho a
sensação de sentir a mão da minha mãe na minha, a conduzir os meus gestos, a
desenhar as letras, a sussurrar ao meu ouvido como fazer. O gosto pela escrita
começou nesses momentos a dois, nessa passagem de testemunho. Quero aqui
sublinhar a minha mãe não foi escritora, foi uma mãe dedicada aos filhos sempre
disponível em lhes proporcionar bons ensinamentos e princípios.
2. Como surgiu o ímpeto de escrever esta obra e de a partilhar com o público?
Não se tratou de um ímpeto, mas de uma necessidade em deixar registado, em jeito de
homenagem, um curto período na minha experiência de escritor em que, de alguma
forma, pude fazer a diferença a mitigar o sofrimento de uma leitora. Penso que o
papel de um artesão das letras é também isso, contribuir para construir um mundo
melhor, mesmo que esse mundo seja o de um ser humano apenas.
3. Como correu o processo de escrita desta obra. Partilhe connosco um pouco sobre
essa experiência?
O processo de escrita decorreu de uma forma natural. Mas
aproveito para fazer aqui um convite aos leitores, para assistirem à apresentação
desta obra, serão revelados alguns dos “segredos” e momentos desse processo.
4. Silêncio… Fiz Confissões ao Mar, é o compromisso assumido pelo poeta com um dos
seus leitores, cujo destino fez com que se cruzassem nas redes sociais durante o
período da pandemia da COVID-19.
De onde surgiu a ideia de transformar todos os poemas, cartas de amor e prosa
poética numa cronologia real?
A ideia surge no contexto dessa experiência
propriamente dita. Uma obra que além de ser a cronologia real do tempo e
interação entre duas pessoas a viver a mais de dez mil quilómetros de distância,
(que não se conheciam nem chegaram a conhecer), criando uma ponte através das
redes sociais, transforma-se, por um lado, num grito de auxílio a que não pude ficar
indiferente. É, portanto, um livro de poesia, um diário, uma homenagem a todos
aqueles que em silêncio lutam contra colossos em determinadas fases das suas vidas
e, neste caso real, fez confissões ao mar.
5. Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas
obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?
Os projetos são muitos! Tivesse eu as condições financeiras para os realizar.(risos) São projetos em
vários registos, são sempre desafios. Essa é uma das fórmulas para um escritor
criar, desafiar o impossível. Escrever nos dias de hoje num país onde os
consumidores de livros são cada vez menos é um acto de coragem. Volto aos meus
tempos de menino em que saber ler e escrever é sobreviver. Nestes novos tempos
as máquinas já escrevem por nós, não querendo fazer futurologia, está próximo o
tempo em que escrever será um saber de poucos. vamos voltar a ter de enfrentar o
nosso próprio processo de nos obrigar a reaprender a escrever. O próximo grande
desafio que tenho já está em preparação. Outros guardo na gaveta à espera de
melhores dias.
6. Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?
Que façam uma reflexão sobre como um escritor e poeta consegue sobreviver e pagar as
contas ao fim do mês. Quanto tempo demora a escrever um livro, quanto tempo
demora uma criança no processo de aprendizagem da leitura e da escrita, quanto
pesa o lápis nas mãos de uma criança quando esta começa a desenhar as primeiras
letras, qual a importância das palavras? Quanto tempo disponibilizam para ler um
livro? Quantas crianças ainda existem no mundo e, outras que vão nascer, que não
viram um livro ou nunca vão ter um livro. Qual a sensação que experimentam
quando veem livros nos contentores do lixo? A minha mensagem é a seguinte: no
silêncio das palavras de um livro há histórias reais, vidas reais que também um dia
fizeram confissões ao mar.
