À Conversa com... Ana Rito Cardoso
Atualizado: 25 de mai.

Ana, seja bem-vinda à nossa rubrica À Conversa Com…
Nesta rubrica promovemos entrevistas inéditas com autores nacionais, e cujo propósito primordial é fazer com que as suas palavras alcancem novos leitores.
1. Para iniciarmos a nossa conversa, começamos com a pergunta mais importante: como é que nasceu o gosto pela escrita?
Penso que escrever é o acto reflexo de quem lê, aliado à capacidade de observação. Nasce da vontade de transcrever para o papel o que vimos, o que sentimos. Sou daquelas que prefere escutar a falar. As pessoas têm muitas vezes a necessidade apenas de ser escutadas. Mas isso não faz de mim um receptor passivo – aquilo que fui pensando, sentindo, a forma como compreendi o que me foi narrado, tem de alguma forma ser extravasado. E escrever é isso – é a vontade de partilhar o nosso mundo, construído com retalhos do mundo dos outros.
2. Como surgiu o ímpeto de escrever esta obra e de a partilhar com o público?
Este pequeno conto surgiu da vontade de abordar o facto de que as nossas experiências não nos definem enquanto pessoas. Isto é algo que quero muitas vezes dizer a quem escuto. Não nos podemos fazer vítimas dos nossos episódios marcantes – eles fazem parte da vida. A vida não nos embrutece – apenas nos faz crescer, às vezes de repente, às vezes de vagar, conforme a oportunidade que lhe damos.
3. Como correu o processo de escrita desta obra? Partilhe connosco um pouco sobre essa experiência.
Normalmente começo por uma ideia que me persegue – uma frase que ouvi ou li, algo que presenciei. A todo o momento me assalta essa ideia, até que me vejo forçada a vertê-la no papel, como que a concretizá-la, como que a racionalizá-la.
O mestre João acompanhou-me por algumas semanas. Na minha cabeça iam crescendo pormenores sobre ele. Um dia senti-me encurralada pela questão inocente de uma criança: afinal o que é que aconteceu? Foi então que tive de escrever.
4.O Pescador da Vila, uma obra que inquieta o leitor e fá-lo viajar no âmago da sua própria existência.
De onde surgiu a vontade de partilhar a história de um velho pescador, que relembra um episódio marcante da sua vida?
Como já referi, nasceu da necessidade de mostrar que nem tudo o que parece, é. Por detrás de cada gesto e de cada palavra há um motivo. Cada um de nós tem uma história para contar.
5.Quais são os seus projetos para o futuro? Os leitores poderão contar com novas obras e dentro do mesmo registo ou prepara algum desafio?
Sempre escrevo pequenos contos ou micro-contos – é a forma que encontrei que melhor serve o propósito da partilha para mim. Gostaria de partilhar mais, as minhas histórias, os meus personagens – todos fazem parte de mim e, no entanto, todos me são alheios.
6.Qual a mensagem que gostaria de partilhar com quem nos está a ler?
Que leiam muito, mas não leiam à toa. Não é preciso ler todos os livros que temos à disposição, mas sim aqueles que escolhemos (e são sempre muitos os que escolhemos!). Mas que deem prazer, que cada palavra seja entendida, que se reconheça algo de nós em cada personagem. Leiam devagar e deixem que as linhas que leram vos acompanhem depois.
